Pense, Sinta, Faça

Quando faço isso, não sei o que sinto
Quando sinto isso, não sei o que penso
Quando penso isso, não sei o que faço
Senti que fazer é pensar
Pensei que sentindo eu fazia
Fiz pensando em sentir
Pensando bem
O que eu sinto
Vem do que eu fiz
Não pensei
Aí não fiz
E acabei não sentindo
Já pensei em fazer
Já senti só de pensar
Já fiz sentindo
Sinto que pensando eu já fiz
Penso que fazendo eu já sinto
Faço sentindo o pensar
Mas quando fiz
Nem pensei
Só senti.

João Aranha

28/09/2012

O Poeta

O poeta precisa da dor
Ele precisa sofrer
Ele precisa não ter para ser
O poeta precisa do “não”
Não existe poeta sem dor
Não existe poeta alegre
Pode até existir
Mas aí a poesia é outra
A poesia do poeta é diferente
É inerente
É existente na sua dor
Não existe poeta feliz
Se assim o for
É contemplativo
E assim, válido é
Mas na essência fica a dor
Jaz o amor
Que nele nasceu
E assim faleceu
Poeta sem dor não é poeta
Poeta tem um “quê” de profeta
Raro o poeta que abre a janela
E se assim o fizer, eu entendo
É o seu viver
É o seu vivendo
Poeta não vive de acordes maiores
Mas sim dos menores, dos diminutos
A dor emanada no acorde
E no seu acordar
Brincar com o cinza do céu
Este é o poeta
Que vive e morre todo dia
Que grita, que cala
Que ri, que chora
Que fala, que ouve
Que sente, que goza
O poeta vê beleza onde não tem
O poeta vê a beleza que ninguém vê
E isso basta
Basta para ele
Basta para o seu cerne
Seu cerne desconcertante
Sua calma feliz por fora
Sua alma berrante por dentro
O poeta precisa ver
O poeta precisa ouvir
O poeta precisa cheirar
O poeta precisa falar
O poeta precisa tocar
Em todos os sentidos
Este é o sentido do poeta
Tua vida é teu poema, poeta
Tua azia é tua poesia
Poeta fica na sua
Poeta vive da rua
Poeta é vida dura
Crua e nua
Poeta mora com todos
Mas vive sozinho
No seu coraçãozinho
No seu cantinho
Poeta não é atleta
Só no exercício da dor
De ver flor onde vive odor
Mas o poeta é feliz
É feliz sim
Ele precisa viver do olhar
Do sorriso e do choro
Do gozo e do sexo
Do sem nexo que ele vê
Do perplexo que ele crê
Poeta, você é assim
Vê poesia num capim
Desde o puro começo
Do meio em que vê o meio
Até o clarim que soa no fim
Poeta, o que te falta é nada
E mesmo assim
Seu nada vira tudo
Contudo
Ser poeta
É a sua meta.

João Aranha

17/06/2010

Gosto disso

Gosto disso
Gosto
Gosto mesmo
Gosto de ficar aqui
Observando
Observando pessoas
Gosto de ver a vida
Olhando essas pessoas
Que circulam por aqui
Que andam ali
Que encontro acolá
Gosto de ver pessoas falando
Se expressando, gesticulando
Gosto de ouvir as pessoas
Não as conheço
Mas é por isso que eu gosto
Quando não ouço
Tento ler lábios
Não domino
Mas tento
É um prazer ouvir
Ouvir conversas picadas
Conversas privadas
Conversas soltas
Sem saber seu fim
Sem ter um fim
Mas meu fim é este
Ouvir pedaços
Pedaços de expressões
De sentimentos
De histórias
De momentos
De ouvir choros e lamentos
De ouvir sorrisos e gargalhadas
Gosto
Gosto de observar
Sem ser observado
Voyeur?
Talvez…
Mas um voyeur presente
Que sente
Que ouve
Que vê
Não atrás das cortinas
Mas na vida escancarada
Aberta, ao lado
Sem ser percebido
Sem ser ouvido
Sem ser nem ter sido
Decido observar
O tudo e o todo
E num todo
Gosto do meu olhar
Do meu ouvir
E do meu viver.

João Aranha

14/05/2010