SUPERAÇÃO

snail-1447233_640

O que você supera?
O que você espera?
O que te desespera?
É preciso superar sem esperar?
É preciso esperar sem desesperar?
É preciso desesperar e não superar?
Espero e me desespero
Não supero meu desespero
Não espero mais desespero
Me desespero por não mais esperar
Desesperar é não ter noção
Esperar é ter noção
E se superar é agir
É preciso uma super ação.

João Aranha

29/01/2020

29 anos

IMG_20190416_094846_740

Há exatos 29 anos, escrevia meu primeiro poema. Na mesma data, há 101 anos, nascia Charles Chaplin. A relação não tem nada a ver, mesmo porque, eu só descobri anos depois. O papel de Chaplin era fazer o mundo rir. O meu era chorar sozinho nos meus papéis. Spencer já foi, eu um dia irei. Entre um Carlitos famoso e um João Carlos anônimo, a única coisa comum talvez seja a maravilha de poder ver as luzes da cidade e saber viver nesses tempos modernos. Com um olhar de garoto ou vagabundo, agradeço aos pastelões que não me fizeram escrever, mas sorrir e amar o cinema. Obrigado a quem me lê e a quem me gosta. Obrigado por ter escrito um pouco da minha vida por aí e me encontrar comigo mesmo. Estou longe do seu talento, Charlie, mas você me influenciou a ver as cores da vida nesse imenso mundo preto e branco. Obrigado, Deus. Obrigado, Chaplin. Aliás, vocês não seriam a mesma pessoa?

CRIME

 

digital

Já roubei teu beijo
Já sequestrei teu coração
Já invadi teu corpo
Já matei tua saudade
Já não temos nossos corpos
Quiçá um habeas corpus
E no corpo de delito
O perito me deleta
Fui condenado a te perder
Cumpro pena por não te ter
Encarcerado por me apaixonar
Enjaulado por me entregar
A reação em cadeia desencadeia
O amor preso
E eu preso
Por te amar.

João Aranha
14/08/2018

45 DO SEGUNDO TEMPO

football-2481233_1280

Cheguei
Cheguei aos 45
Aos 45 do segundo tempo
Muito tempo nesse jogo
Nesse jogo da vida
Um jogo que começou há muito tempo
A partida foi iniciada em 1972
Um tempo tranquilo de vida
Mas pesado na política
Um tempo cheio de arbitragens
Cercado de impedimentos
Mas eu já estava em campo
Fazendo meus pequenos chutes a gol
Nas minhas firulas infantis
Como era bom ser dente de leite…
Aí, nos anos 80, veio a fase júnior
Competições sadias, porém, inúmeras
Jogadas para conquistar meninas bonitas
Defesas para não sofrer os gols contras
Os bullyings naturais da fase
Alguns eu deixei passar
Outros ficavam na grande área
Mas muitos voltavam para o meio campo
Eu tinha grandes amigos zagueiros
E o primeiro tempo já estava correndo
Na loucura de ser goleiro, zagueiro, volante, ponta direita ou esquerda, centroavante e camisa 10…
Caí muito
Me machuquei muito
Mas nunca saí do gramado verde-esperança
E o juiz apitou
Fim do primeiro tempo…

Anos 90
O segundo tempo começava
Tive dores, mas fiz gols
A torcida delirava
Era moleque com responsa
Driblava os malas e os cartolas
Jogava cansado
Mas tinha o pique de goleiro ao ponta esquerda
Era mais um novo e grande jogo
Sofri contusões amorosas
Fiquei afastado
Nem queria mais jogar…
Mas todo jogador deve honrar sua partida
Era foda
Mas era normal, segue o jogo…
Dribles, firulas, chaleiras, matava no peito
Mas também passaram pelo meio das minhas pernas
Tomei frango
Discuti com juiz
Expulsão
E o segundo tempo continuava
Marquei vários golaços
Até gol olímpico fiz alguns
Mas já tomei goleada
Chocolate
Acontece
E chocolate de novo
Segue o jogo…
Bordoada na canela, cotovelada
Segue o jogo…
Ok, faz parte
Fui rebaixado
Aos poucos, voltei para a série A
Fui campeão, bicampeão, tricampeão
Tudo faz parte da vida de um jogador
Nesses difíceis e enlameados campos da vida
E o jogo já vai para 40…

Fiz um golaço!
Olímpico!
Aos 41: outro golaço! Esse de bicicleta!
A pressão veio, mas continuei
Muita chuva, falta de energia
Paralização…

Volta o jogo
Tentei outros gols
Mas tudo bem
Já estava classificado
E o juiz apita:
Fim de jogo!

O cansaço é grande
Mas eu visto a minha camisa
Porque o time é meu
O time sou eu
Agradeço à torcida querida
Aos títulos conquistados
E também às pisadas de bola
Mas o jogo continua…
Porque agora tem prorrogação…

O tempo é curto
E se não for em campo
Vai pra pênalti
Espero bater o último
E que seja bonito
Bora prorrogar
Porque a vida segue
A gente vira técnico
Vira dirigente
Quem sabe, presidente?
Mas, nunca cartola…

É continuar em campo
E agradecer ao Professor
Que me deu o dom da bola
O dom de saber jogar
Cair e levantar
Tomar gol e golear
Porque a vida é sempre um jogo
É vida que segue
E segue o jogo…

João Aranha

04/01/2018

PS) A publicação seria no dia, mas faltou luz no estádio.

DOR

A dor que vem
É uma espécie de morte
A dor é que nem
Abrir um corte
A dor não é um bem
Quem dera fosse
A ausência de sorte
A dor que vem
Fura o peito
Amassa o coração
Carcome a alma
A dor que vem
Poderia ser em outrem
Mas vem neste ser
Que parece não mais ser
Que padece em não mais ter
Que apodrece de sofrer
Não vejo luz
Quem sabe ela virá

Mas enquanto não acende
O nada me sente
O escuro está na frente
Enlouquece toda a mente
Só há o doente
Que entre unhas e dentes
Não se fez presente
Falece eu ente
Esperando crente
Que o amanhã melhor será

Mas enquanto ele não vem
É esperar uma breve cor
Viver na imensidão
E no declínio
De uma triste dor.

João Aranha
23/08/2017

JOVENS

jovens

Eu vejo jovens

Vejo jovens por aí

Vejo alegria

Vejo euforia

Vejo fúria e frescor

Vejo meninice

Pra lá e pra cá

Vejo um vai e vem

De jovens

De adolescentes

De pré-adultos

De ex-crianças

Vejo ingenuidade

Vejo liberdade

Vejo felicidade

Vejo promiscuidade

Frivolidade, agilidade

Passividade, agressividade

Vejo muita atividade

Vejo a idade na cidade

Vejo teses

Sínteses

Antíteses

Vejo beijos

Amassos e pegações

Vejo amores

Promessas e decepções

Vejo sorrisos e gargalhadas

Choros e lamentações

Vejo vidas e mortes

Feridas e cortes

Vejo o que vivi

Por vezes, o que nunca vi

Vejo histórias contadas

Criadas ou mal-criadas

Verdadeiras e falsas

Loucas e engraçadas

De rica valia

Ou de puta cagada

Vejo aventuras e desventuras

Eu vejo

Vejo as brigas por alguém

Vejo brigas pra ser alguém

Vejo alguém jovem

Eu vejo eu

Jovem.

João Aranha

13/04/2017

POESIA

tati

Tinha acabado de acordar

Aquela cara amassada de travesseiro

O cabelo levemente bagunçado

Rosto de um sono bem dormido

Sem maquiagem

Roupas confortáveis

Toda de preto

De meias e chinelos

Pegou seus óculos de armação preta

Prendeu suavemente seu cabelo

Naquela medida exata que segura o todo

Mas deixa algumas pontas caídas aos ombros

Pôs-se a ler um artigo na internet

Na sua postura elegante e calma

E eu ali

Calado

Observando e contemplando

A poesia de seu corpo

Do seu jeito simples e despojado

No momento tranquilo do dia

Pude sentir a serenidade

Pude ver a feminilidade

Pude admirar a beleza

E com certeza

Agradecer por ter você ao meu lado

E de ser sempre

Um eterno apaixonado.

João Aranha

26/01/2017

HÁ VAGAS!

pencil-918449_1280

Vagar por aí

Vagar pelos ares

Vagar pelos quatro cantos do mundo

Poema que vaga por onde for

Que vague sem ser vago

Que preencha a vaga da alma

Que vaga

Que divaga

Poema que vai

Que volta

E que fica

Poema que faça jus

Que nunca jaz

E que abra vaga

Para sempre ter

E ser

Poeta.

 

João Aranha

13/12/2016