Cheguei
Cheguei aos 45
Aos 45 do segundo tempo
Muito tempo nesse jogo
Nesse jogo da vida
Um jogo que começou há muito tempo
A partida foi iniciada em 1972
Um tempo tranquilo de vida
Mas pesado na política
Um tempo cheio de arbitragens
Cercado de impedimentos
Mas eu já estava em campo
Fazendo meus pequenos chutes a gol
Nas minhas firulas infantis
Como era bom ser dente de leite…
Aí, nos anos 80, veio a fase júnior
Competições sadias, porém, inúmeras
Jogadas para conquistar meninas bonitas
Defesas para não sofrer os gols contras
Os bullyings naturais da fase
Alguns eu deixei passar
Outros ficavam na grande área
Mas muitos voltavam para o meio campo
Eu tinha grandes amigos zagueiros
E o primeiro tempo já estava correndo
Na loucura de ser goleiro, zagueiro, volante, ponta direita ou esquerda, centroavante e camisa 10…
Caí muito
Me machuquei muito
Mas nunca saí do gramado verde-esperança
E o juiz apitou
Fim do primeiro tempo…
Anos 90
O segundo tempo começava
Tive dores, mas fiz gols
A torcida delirava
Era moleque com responsa
Driblava os malas e os cartolas
Jogava cansado
Mas tinha o pique de goleiro ao ponta esquerda
Era mais um novo e grande jogo
Sofri contusões amorosas
Fiquei afastado
Nem queria mais jogar…
Mas todo jogador deve honrar sua partida
Era foda
Mas era normal, segue o jogo…
Dribles, firulas, chaleiras, matava no peito
Mas também passaram pelo meio das minhas pernas
Tomei frango
Discuti com juiz
Expulsão
E o segundo tempo continuava
Marquei vários golaços
Até gol olímpico fiz alguns
Mas já tomei goleada
Chocolate
Acontece
E chocolate de novo
Segue o jogo…
Bordoada na canela, cotovelada
Segue o jogo…
Ok, faz parte
Fui rebaixado
Aos poucos, voltei para a série A
Fui campeão, bicampeão, tricampeão
Tudo faz parte da vida de um jogador
Nesses difíceis e enlameados campos da vida
E o jogo já vai para 40…
Fiz um golaço!
Olímpico!
Aos 41: outro golaço! Esse de bicicleta!
A pressão veio, mas continuei
Muita chuva, falta de energia
Paralização…
Volta o jogo
Tentei outros gols
Mas tudo bem
Já estava classificado
E o juiz apita:
Fim de jogo!
O cansaço é grande
Mas eu visto a minha camisa
Porque o time é meu
O time sou eu
Agradeço à torcida querida
Aos títulos conquistados
E também às pisadas de bola
Mas o jogo continua…
Porque agora tem prorrogação…
O tempo é curto
E se não for em campo
Vai pra pênalti
Espero bater o último
E que seja bonito
Bora prorrogar
Porque a vida segue
A gente vira técnico
Vira dirigente
Quem sabe, presidente?
Mas, nunca cartola…
É continuar em campo
E agradecer ao Professor
Que me deu o dom da bola
O dom de saber jogar
Cair e levantar
Tomar gol e golear
Porque a vida é sempre um jogo
É vida que segue
E segue o jogo…
João Aranha
04/01/2018
PS) A publicação seria no dia, mas faltou luz no estádio.