Entrelinhas

Não sei o que escrever
Mas preciso escrever
Pois preciso é
Escrever na linha
Sem seguir a linha
Alinhar sem ter linha
Perder a linha
Sem perder o fio
O fio da meada
Em meados do dia
Nos meandros da vida
Dando vida sem medo
No linear das linhas
No tempo não linear
Sobre e sob as linhas
Vivendo e escrevendo
No caminhar das entrelinhas.

João Aranha

18/04/2011

Vim te escrever

E assim foi, assim foram, assim está sendo e assim será. Uma folha, um lápis, ou uma caneta, não me lembro bem, mas lembro do início, da página branca, virgem para a tinta molhada deste ser, pura para receber as primeiras palavras ainda sem noção, sem pretensão alguma, apenas a vontade nova de expressar algo no papel, este cândido amigo, preparado para o que viesse ele receberia deste pequeno homem despreparado nas letras e na vida, mas, de certa forma, preparado para deixar seus sentimentos na folha em branco, toda alva num alvo de registros, mas pronta para abraçá-los com carinho e boa vontade, prestativa para com a vontade do menino ansioso, que mal sabia o que dizer, só certo estava de que algo seria ejetado de seu ser, de sua alma, de seu cerne. Vinte anos exatos se passaram e a vida mudou. Mudou e ainda muda, e na muda voz permanece a paixão pela escrita iniciada no dia 16 de abril de 1990, data comemorativa para este pequeno ser, mas mais comemorativa pelo nascimento de alguém encantador como Spencer, o famigerado e adorado Charles Spencer Chaplin, que escreveu sua poesia nas telas através dos gestos e trejeitos simplórios e pueris dentro da película que não falava, na linguagem muda que mudou a arte de fazer sorrir e chorar seres sensíveis que mudam o mundo surdo e cego, mas que abraçam o coração até daqueles que não o têm. E para quem tem, acredito eu, como eu, a primeira página de vinte anos atrás marcou um ofício, por vezes difícil de realizar, mas fácil no sentir, e por assim dizer, o prazer do deleitar não em busca do sucesso, mas o de confeccionar a alma escrita. A necessidade de se ler e ler o que se vive, o que se sente, o que se é. Vinte anos se passaram e passarão mais deles, e sem poderes, agradeço quem lê, quem me vê e quem me inspira ao escrever. Obrigado a todos.

João Aranha

15/04/2010

Eu queria escrever um poema…

Eu queria escrever um poema
Um poema que falasse de amor
Ou um poema que falasse de mim
Talvez um poema da minha vida
Ou até um poema sobre o ódio
Mas agora eu não tenho amor
E não quero falar sobre mim
Minha vida não tem poema
Tampouco ódio ou rancor
Eu queria mesmo era escrever um poema
Um poema com maestria
Com louvor ou heresia
Mas não tenho cerne para tal
Nem para o bem, nem para o mal
Teria até escolhido algum tema
Mas continuo no meu dilema
De ainda não conseguir
Escrever o meu poema.

João Aranha

12/03/2010

(14 de março – Dia Nacional da Poesia)

KEEP WRITING

letra

Escrever, sim, escrever
Como guardar?
Exprimir, expressar, experimentar
Não, não guardemos
Não, não sobremos
Nesta lacuna breve
Preenchida ao escrever
Instrumento amigo
Por vezes, até inimigo
De outrem, claramente
Não de minha mente
Sim, esta que sente
Tamanha semente
De espernear
Palpitar
E de palpite em palpite
Mais um sulfite
A despertar
E preencher a lacuna
Nunca esvaziar
Certa fúria, certa dor
Sim, estas sim
Mas oco
Jamais o será
Pois escrito ficará
Belo regurgitar
De novo, mais um despertar
O amanhã já vai nascer
E com ele
Vou escrever.

João Aranha

11/11/2006