É

Estava eu de pé
Tomando meu café
Sentindo minha fé
Voltei ao café
Em meio ao forfé
Olhei as muié
Muita muié
Alguns mané
Muitos José
Algumas Mazé
E eu no meu café
Vi uma ralé
Vi um mané
Mas, o que é?
Estar em pé
Sentindo aquela fé
Pergunto quem é
Indago: Ué?
Continuo em pé
Mais um gole de café
Nenhum carro deu ré
Uns tiozinhos no mé
Mas sempre com a fé
Termina meu café
Pago o bom café
Dou tchau pro Zé
Continuo a pé
Me pergunto o que é
Talvez seja lelé
Vejo de perto o que é
Sem saber se realmente é
Vi mais um José
Sim, estava a pé
Fominha de Avaré
Bateu depois do café
Olha…mais um José
Será que é?
Ah…muié
Quanta muié
Bonita, mas não qué
Corpinho tudo em pé
Das curvinha até os pé
É, terminou o meu café
Talvez noitinha tenha um mé
Mais ainda com a fé
De procurar São José
De ser meio São Tomé
De Balzac, Honoré
As de trinta curte mé
As de quarenta sei que qué
As de vinte, qual é?
Vou andando, no rolé
Pesquisando onde que é
A sorte o mundo qué
Minha dor já não me qué
Vivo a vida até onde dé
E tomando meu café
Sigo a minha fé
E sempre adorando
A praça da Sé.

João Aranha

27/10/2006

NOTA-ME

Notas sutis
Nota por nota
Delicada nota
Uma por uma
Sublime nota
Que me nota aqui
Nota minha paz triste
Calmaria inquieta
Revolta branda
Sereno que cala o grito
Nota que me nota
Eu, nunca janota
Já noto a nota
E anoto em meu cerne
Aquele desconsertante
Não obstante
Criança branda
Desobedece à quem manda
Na vida, na mente
Sinto a nota me notar
Anoto aqui o meu pecar
Ser errante, graças…
Fortificante após desgraças
Nota-me, clara luz da lua
Suga-me pro teu brilho
Mostre tua luz
Acalma meu grito
Que poucos ouvem
Raros entendem
Me leva pra tua cratera
Cansei desta esfera
Nota minha tristeza
Numa alma sem frieza
Calorenta e guardada
Guardada pra um calor
Jogue a luz na minha cara
Clara luz que cega o cerne
Que cancela o tímpano
Que anula a aura
Momentaneamente
Nunca eternamente
E ter na mente
Tua calma
Que toca o coração partido
Em tempos idos
Nota minha calma
Ouve o meu grito
Alma clara
Minha rua, minha calma
Nota que sustenta
O próprio sustenido
Que tem surtido
Em triste aula
Cinzas que invadem
A surdez de um ambiente
Num pensar eloqüente
Num vivaz que aqui jaz
Num amor inconseqüente
E a luz azul que me preenche
Faz a vida nunca vã
Ludwig Van
Agradeço teu apreço
E apareço em que me deste
Na janela, meu oeste
Por que vieste
Esse viés?
Pesado convés
De tantos prantos
Inúmeros entretantos
Entre tantos cantos
Fico no meu canto
Canto sem cantar
E no paladar de um sonho
Fico a respeitar
O teu luar
O teu tocar
O teu notar
Da surdez insensatez
Que fez de vez
Grande poeta
De notas ímpares
Que me deixam a par
De um deitar sonolento
Cansado, virulento
E lento penso
No meu deitar
Sobre o deleitar
Deste menino homem
Que sempre ousou
Amar.

João Aranha

10/10/06

ÍMAS

Ímas

Uma fotografia
Imagem real
Projetada em meu cerne
Total e desconsertante
Quebrante e inquebrável
Poema em forma de luz
Escrevendo a alma
Magnetizando um sentimento
Aproximando dois ímas
Extremidades diferentes
Coladas igualmente
Num calor equivalente
E valente nos dois seres
Ora dois, ora um
Ímas imagéticos
A qualquer hora
A qualquer tempo
Melhor momento
Não por acaso
Um caso
Vozes condutoras
Mensagens sedutoras
Olhares imagéticos
Tradução de um desejo
Um toque, um gracejo
E no belo beijo
O fluído que também vejo
Em corpos pequenos
Contraditórios ao desejo
Calor em demasia
Vontade…arrepia
Iniciado por um olhar
A partir de uma fotografia.

João Aranha

18/09/06

AMOR ETÍLICO

Amor Etílico

Embriagado por você
Do teu amor tomei um gole
Virei todo o seu prazer
Desnorteado, fiquei de porre
Tomei todas
Solucei felicidade
Escorreguei no seu tesão
Caí no teu abraço
Fiquei tonto
Bebi você
Paixão bêbada
Beijei teu cálice
E não cale-se no meu gargalo
Brindei teu vinho
Belo vinhedo
Não tenho medo
Vem de lá
Vodka
Bem molinha, pediu branquinha
Chega um gim
Mais um tim-tim
Serei um fraco
No mundo de Baco
Teu corpo envolve
Teu lábio, devolve
Minha alma quente
Tua água ardente
Seu seio descoberto
Em meio ao meu deserto
Sou seu menino ébrio
Em raciocínio sóbrio
Na melhor safra
Uma rolha saca
Não fecho minha conta
No coquetel de faz de conta
Nunca mais terei ressaca.

João Aranha

22/08/06

TINTA

Tinta

Tinta no papel
Sempre
Ela no papel
Ele na tinta
Tinta que tenta
Fazer o papel
Papel dela
Papel de muitos
Papel de mitos
Papel de mistos
Papel da mente
Mente que mente
E desmente
A demência de um poeta
A clemência de um profeta
Que entra em alfa
Que entra em beta
Mas o que importa
É se gama
Se engana
Se finge
Se vive
Se declara
A clara voz
Que soa baixo
Que grita alto
Em belo contralto
E no estribilho
Não sei se brilho
Não sei se vibro
Mas sei que vivo
Este é o meu papel
Este é o seu papel
Um papel que sinta
Que sinta a tinta
Que não minta a tinta
Que tente o que sente
Que invente
Não mente
No ideal
No singular
No plural
No fiel
No papel
De escrever
Do inferno ao céu
O inocente e o réu
O amargo e o mel
A feia, a linda
O feio, o boa pinta
E no papel, uma pinta
Um ponto, uma linha
Mente que finda
Num papel que pinta
Um pintor de idéias
Que chora sempre junto
Com a sempre amiga tinta.

João Aranha

10/08/2006

UM PAÍS SE FAZ DE HOMENS. NÃO DE LIVROS.

Um país se faz de homens. Não de livros.

Olá, pessoas! É engraçado… tá bom, tá bom, não é engraçado, é triste, e é verdade mesmo. É triste ouvir notícias por aí em todos os meios, mídias e multimeios as notícias da criminalidade, as famigeradas notas sobre a facção criminosa, o tão falado Primeiro Comando da Capital, com a sigla também mais ouvida nos últimos dias e meses, o PCC. Digo triste porque pessoas morrem a cada dia, pessoas que sequer tem a ver com qualquer criminalidade estão sendo mortas ou gravemente feridas por um bando de criminosos sem escrúpulos. Triste saber que não temos mais sossego nos dias de hoje, principalmente na capital paulista. Triste eu sei, mas considero engraçado, não no sentido de rir, óbvio, mas ver a ironia não só de análise, mas a ironia com que as coisas acontecem, a começar pelo nome do grupo. Pois é, pessoas, o próprio nome já diz, “Primeiro Comando da Capital”. O que você espera de um grupo que tem esse nome decodificando suas simpáticas siglas? Bom, esperar ninguém espera, mas entende que, pelo menos, faça jus ao nome, alias, diria que é uma das poucas siglas que a gente vê na TV que exerce a proposta da alcunha, ou seja, ela é, hoje, o primeiro commando da capital mesmo, diria mais, diria o primeiro comando federal, pois além de mandarem na capital e interior está comandando a nação inteira, gerando caos, medo e incertezas mil nas cabeças habitantes dessa terra ainda verde, com governantes que amarelam, com muita gente sem sangue azul e que na hora de fazer o que precisa, vem aquele branco.
Um grupo que dita as regras nessa terra continental, um grupo que mostra sua força interna e externa deixando claro (por sinal, expondo muito bem) todo o seu poder, sua tática, sua estratégia de trabalho, sim, por que não falar trabalho? Uma orgnização que poucos tem por aí, um grupo que arrecada dinheiro com uma administração impecável, uma fidelidade de clientes e uma execução de tarefas e delitos impecável, não acham? Uma trupe que manda e desmanda no país sem sair de seu retiro acadêmico. Sim, acadêmico, ué, não acham? Um lugar onde se aprende a ler, se aprende a administrar grupos, agendar tarefas, fazer contabilidade, networking business, liderança de equipe, estratégia de comunicação, prática do discurso, como falar em público, ações de marketing de guerrilha, branding extremamente forte, fidelização de clientes, propaganda corporativa, institucional e também propaganda que não é enganosa nunca. Hoje mesmo li uma nota na internet sobre este grupo, equipe, partido, enfim, que os ataques em São Paulo tinham diminuído, mas que atacarm somente no interior do estado. Pois bem, não falei que eles sabem tudo de marketing direto? Fico imaginando o CEO Marcola e seus executivos nas reuniões com a TV de plasma (típica em sala de reunião) dizendo com um retroprojetor num data show fodão: “Então, agora vamos atacar só no interior, pois nosso budget da capital já foi utilizado, mas como temos verba garantida, tentaremos um outro target, um público-bem-alvo que ainda não tem conhecimento de nossa empresa e de nossos serviços, ok? Algum comentário? Tudo bem, vamos pra pelada que hoje tem solzinho e depois dia de visitas.
Eu acho formidável essa academia, uma faculdade que reúne não só os seres pensantes do país, não importando a ética (isso importa?), mas sim a valorização do saber fazer num mercado tão competitivo como este nosso, né?
Uma faculdade séria que pega os melhores e fazem aquela panela de malfeitores excepcional, uma raridade de seres politicos que cumprem com a palavra, que sabem conduzir seus negócios obedecendo a verba arrecadada de impostos dos fiéis trabalhadores e seguidores deste baú que transborda felicidade.
Eu fico satisfeito de ver que está tudo sob controle, fico tranqüilo em saber que o ônibus que pegou fogo semana passada (aqui no bairro mesmo) não foi o que eu pego, assim fico sabendo que está tudo tranqüilo e também quem morreu eu não conheço, então está tudo ok, na mais perfeita ordem, né não?
Gosto de caminhar pelas ruas e sentir aquele clima adorável de Oriente Médio, sabe? Gosto de culturas orientais, então, vamos fazer o benchmarking e copiar as melhores coisas dos outros países, vamos importar a Faixa de Gasa (que deveria ser Faixa de “Gase”) e curtir os benefícios d uma guerrilha urbana e descontrolável. Eu acho bem interessante pra mostrar aos países ricos que, além de termos jacaré nas ruas, macacos nos postes e muitas bundas em fevereiro e gols (gols?) em junho mostremos que também temos estrutura suficiente para atentados, terrorismos, temos espaço a dar com pau, a dar com cacetete, a dar com os burros n’água também. Vamos globalizar as coisas boas deste mundo, vamos abaixar as cabeças e louvar nossos ditadores enclausurados nos resosrts cumprindo totalmente a lei e nós enclausurados entre portões, trancas, grades e guaritas pagando todos os impostos (ai de quem não pagar) por uma lei honesta, rápida e pensada nos cidadãos que exercem a verdadeira cidadania.
Vamos fazer esta faculdade, ou, melhor ainda, vamos votar nos senhores desta academia que do país um orgulho, um exemplo de ordem em plena desordem nacional.
Eu acho fundamental a participação, o gesto de cidadania para com os nossos senhores, aqueles seres inteligentes (foda-se o caráter, como já disse) que vêem o sol nascer quadrado (ou será se por? Não sei pra que lado fica a janelinha da cela) mas têm tv de plasma, tem dias de visita, Natal e o escambau. Nós temos a liberdade de escolha, um país cheio de demo e pouca cracia, onde, infelizmente, a honestidade e o trabalho não dão direito à tv de plasma, mas sim o pleno direito de estarmos em pequenas células, um citoplasma, mas que não enxergamos a porra de um núcleo, muito menos a merda de um nucléolo.
Ano de eleições e a briga está acirrada, as pesquisas não param, entre esquerda e direita, onde cada lado tem sua razão, eu fico com o lado central, liberal, anárquico, caótico e que faz o primordial: separar o bem do mal.
Vou votar neste forte partido, pois os outros não são partidos, eles estão partidos.
Viva a liberdade de ex-pressão!
Viva a vida e vamos respeitar os trabalhadores inteligentes, afinal, eles pegam vários ônibus por dia… E olha que é fogo agüentar…

João Aranha

17/07/06

Puro?

Pois é, estava eu pensando com os meus zíperes (o importante é variar), sobre como o condicionamento humano é engraçado, ou melhor, é triste e muito. Não triste de chorar, mas triste de se irritar, pelo menos no meu caso. Eu penso, quase todo dia, neste caos que nos invade a alma e, querendo ou não, fica por toda a vida. Hábitos, vícios e outras formas de atitudes que nos fazem iguais aos outros diante de um determinado fato que, de uma maneira ou outra, joga a gente dentro de um universo de repetições corriqueiras que conduzem-nos no dia-a-dia de forma, por vezes (aliás, na maioria das vezes), estúpidas, exatamente pelo simples fato de acharem, sem querer, que isto foi um padrão estabelecido sabe lá Deus por qual imbecil que teve o momento Heureca.
Outro dia, conversando com meu primo (outro maluco por natureza), dividíamos nossas iras para com estes intrigantes momentos perturbadores. Pois bem, em nossa longa prosa, reparamos que as baristas (descobri como se chamam as “mocinhas do café”), sempre quando pedimos: “Por favor, um café expresso” as simpáticas (ou não) mocinhas retrucam de imediato com o seu bordão: “Com leite?”, ou ainda com o clássico: “Puro?” ou melhor ainda, a fusão das duas vertentes: “Puro ou com leite?” Poxa vida, meus amigos, se eu peço um café é porque eu quero um café e, que eu saiba, um café é um café e ele vem numa xícara, bem quente, na cor preta e, por assim dizer… puro. Se eu pedir um café com leite eu pedirei a bebida com o sufixo correto, eu pediria o famigerado “café com leite”, simples assim. O que será que houve com as baristas deste mundo? Sofreram alguma espécie de lobotomia nas cafeterias pelo mundo todo? Foram amarradas num quartinho escuro, frio e sujo onde foram ameaçadas de morte para dizerem sempre esta bendita fraseologia pulsante para seres calmos e tranquilos como eu, mas que, dependendo da simples atitude incabível, perde o controle e faz o rosto ruborizar-se de tamanha raiva? Por que isso?
Sei que sou meio (meio?) estressado com alguns detalhes, é engraçado isso, pode estar caindo uma bomba atômica que estarei calmo, mas se ouvir algumas coisas deste tipo, eu não sei, mas fico com uma tremenda impaciência (por dentro, claro, por fora, um lorde inglês), vai entender…
Outra que me deixa intrigado é a nova (nova?) onda de tomar o refrigerante de cola com gelo e limão. Ok, ok, ok. Já viram, né? O processo é o mesmo (será que é por causa da cafeína nos dois produtos?) quando se faz o clássico pedido: “Por favor, uma Coca.” Aí, vem a perspicaz trucada: “Com gelo e limão?” Meu……………………………………(pausa, respira)…………………………(puxe o ar)……………(isso)………………..
Meu, cacete, porque inventaram de beber Coca com limão? Está na Constituição? Faz parte do Estatuto da Criança e do Adolescente? É regra básica para se entrar na sociedade? O mesmo se faz com o suco de laranja: “Com gelo e açúcar?”
Na boa, eu não entendo esse tipo de atitude. Sei que eles querem simplificar o pedido e agradar com as firulas costumeiras, mas eles não entendem que isso não ajuda em nada? Bom, pelo menos pra mim, eu acho que não ajuda. Eu, pelo menos, escolho as coisas do jeito que eu pretendo consumir, não fico à mercê de sugestões que embaçam o andar da fila dos selfs, cafeterias e afins… Só me faz pensar como o ser humano se acostuma com as coisas sem pensar no que estão falando.
É uma questão de simplicidade, eu sei, mas se torna complicado, pois, imaginem todos que não gostam dessas firulas já citadas sendo atendidos numa fila de 794 cidadãos? A mocinha simpaticazinha (ou nãozinha) vai repetir esta dedicação a todos? Acho que não, né?
Pois então amigos, vamos fazer uma passeata contra as fraseologias estapafúrdias que desnorteiam os estressados de plantão!
É isso! Estressados de plantão, digam NÃO ao gelo e limão!
Ah… este seria o meu deleite!
Puro, sem leite.

João Aranha

20/06/06